O “Crédito do Trabalhador” é uma nova modalidade de empréstimo consignado criada pelo Governo Federal em 2025. Ele tem chamado atenção por oferecer uma promessa tentadora: acesso rápido a dinheiro com garantia do saldo do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Mas será que essa linha de crédito é realmente uma oportunidade para o trabalhador ou mais uma armadilha de endividamento? Neste artigo, vamos explicar de forma simples e objetiva o que é o Crédito do Trabalhador, como ele funciona, quais os principais riscos e em quais situações pode ou não valer a pena.
O Que É o Crédito do Trabalhador?
O Crédito do Trabalhador é uma nova linha de empréstimo consignado. Isso significa que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento do trabalhador. O diferencial dessa modalidade é o uso do FGTS como garantia. Na prática, o banco pode utilizar até 10% do saldo do FGTS mais 100% da multa rescisória, caso o trabalhador seja demitido sem justa causa.
A ideia central do programa é facilitar o acesso ao crédito para trabalhadores formais e microempreendedores individuais (MEIs), mesmo aqueles que tenham dificuldade de conseguir empréstimos em bancos convencionais.
Como Funciona na Prática?
O trabalhador solicita o empréstimo junto a um banco participante. O valor aprovado tem como base o saldo disponível no FGTS e o limite de consignação da folha salarial, que pode chegar a até 35% da renda mensal. As parcelas são debitadas automaticamente do salário.
Em caso de demissão sem justa causa, o banco tem o direito de reter parte do saldo do FGTS e da multa rescisória para quitar o saldo devedor.
Os juros dessa modalidade variam entre 2,8% e 6% ao mês, dependendo da instituição financeira. Embora pareçam menores se comparados aos juros de cartão de crédito ou cheque especial, eles ainda são considerados altos para os padrões de crédito com garantia.
Quais São os Principais Riscos?
Apesar da aparência de facilidade, o Crédito do Trabalhador apresenta uma série de riscos importantes:
Juros elevados: Enquanto o saldo do FGTS rende em média apenas 3% ao ano, o trabalhador pagará juros de 3% a 6% ao mês para ter acesso ao próprio dinheiro, o que representa um custo anual superior a 40%.
Perda de proteção em caso de emergência: O FGTS foi criado como uma reserva de emergência para casos como demissão, aposentadoria ou compra da casa própria. Ao usar o FGTS como garantia de empréstimo, o trabalhador pode comprometer essa proteção.
Risco em caso de demissão: Se o trabalhador perder o emprego, parte do FGTS e a multa de 40% podem ser automaticamente usados para quitar a dívida, diminuindo o valor disponível na rescisão.
Endividamento de longo prazo: O desconto direto em folha pode comprometer boa parte da renda mensal, dificultando o orçamento familiar.
Existe Alguma Situação em Que o Crédito do Trabalhador Vale a Pena?
Em alguns casos específicos, o Crédito do Trabalhador pode fazer sentido, principalmente quando a pessoa já tem dívidas com juros muito mais altos, como rotativo de cartão de crédito (que pode passar de 15% ao mês) ou cheque especial. Nestes casos, o novo crédito pode ser usado para trocar uma dívida mais cara por outra com juros menores.
Por exemplo, se o trabalhador estiver pagando juros de 10% ao mês no cartão de crédito, fazer um consignado FGTS a 3% ou 4% ao mês para quitar essa dívida pode ser uma alternativa mais barata. No entanto, é fundamental fazer uma simulação detalhada, comparar o Custo Efetivo Total (CET) do novo empréstimo e analisar com cuidado os impactos no orçamento.
Quem Ganha Com Esse Tipo de Empréstimo?
De forma direta, os principais beneficiados são os bancos, que passam a ter uma nova fonte de crédito com risco praticamente zero, já que o dinheiro do FGTS funciona como garantia. Além disso, o governo também é favorecido, pois a injeção de recursos na economia pode impulsionar o consumo a curto prazo, ajudando a melhorar indicadores econômicos antes de períodos eleitorais.
Por outro lado, o trabalhador assume um risco elevado de endividamento, com a possibilidade de comprometer tanto sua renda mensal quanto suas reservas para emergências futuras.
Conclusão: O Crédito do Trabalhador é Uma Boa Ideia?
O Crédito do Trabalhador pode parecer uma solução rápida para quem precisa de dinheiro, mas na prática representa uma forma cara de acessar o próprio dinheiro do FGTS. A falta de educação financeira na população brasileira agrava ainda mais o problema, já que muitos podem contratar esse tipo de crédito sem entender totalmente os custos envolvidos.
Antes de contratar, o ideal é avaliar outras opções mais baratas, renegociar dívidas existentes e, se possível, buscar orientação financeira. O mais importante é entender que, ao usar o FGTS como garantia, o trabalhador coloca em risco a sua proteção futura em momentos de real necessidade.
Se você está considerando fazer esse empréstimo, faça simulações, compare taxas, leia o contrato com atenção e avalie o impacto das parcelas no seu orçamento mensal.