A escala de trabalho 996, uma prática controversa, tem ganhado destaque em setores de tecnologia em todo o mundo. Originalmente popularizada na China, essa jornada de trabalho, que exige dos profissionais um compromisso de 9h às 21h, 6 dias por semana, totalizando 72 horas semanais, levanta debates sobre produtividade, qualidade de vida e o futuro do trabalho.
Origem e expansão da escala 996
A jornada de 12 horas diárias, ou 996, surgiu há cerca de cinco anos na China, em startups de tecnologia. Embora muitos a vissem como um caminho para o sucesso e o rápido crescimento, a prática gerou forte resistência, sendo apelidada de “escravidão moderna” por seus críticos. O descontentamento popular e os protestos resultaram em uma ação governamental. Em 2021, o Tribunal Popular da China e o Ministério de Recursos Humanos e Segurança Social proibiram formalmente a prática. No entanto, relatos indicam que algumas empresas chinesas ainda a aplicam “extraoficialmente”.
Recentemente, a escala 996 tem se expandido para os Estados Unidos, especialmente no competitivo mercado de inteligência artificial. Empresas e startups têm exigido esse alto nível de dedicação de seus novos talentos, em um movimento que reflete a pressão para se destacar em uma corrida global por inovação e liderança tecnológica.
O caso do Google: um memorando que gerou controvérsia
Em fevereiro de 2024, Serg Brin, um dos cofundadores do Google, emitiu um memorando interno que provocou discussões. Após um período afastado das operações diárias da empresa, ele retornou para comandar a resposta do Google à crescente concorrência no campo da IA. No memorando, Brin destacou que o sucesso na nova corrida tecnológica exigiria um esforço significativo.
O texto sugeria que “60 horas por semana é o ponto ideal de produtividade”. Para os funcionários do Google, que até então trabalhavam em um regime híbrido, a meta de 60 horas em cinco dias úteis significava uma jornada de 12 horas por dia. Brin argumentou que a medida era necessária para que o Google não perdesse terreno e se adaptasse à cultura de trabalho intensiva que já se consolidava em outras empresas de tecnologia.
O impacto da jornada de 12 horas na vida do trabalhador
A adoção de uma jornada de 12 horas diárias tem um impacto profundo na vida dos trabalhadores. Para ilustrar, se considerarmos a realidade de um profissional que gasta, em média, 90 minutos de deslocamento diário, somado às 12 horas de trabalho, ele dedica quase 14 horas por dia às suas atividades profissionais. Ao incluir as 8 horas de sono recomendadas para uma vida saudável, sobram apenas duas horas para refeições, lazer, família e outras necessidades pessoais.
Essa redução drástica do tempo livre afeta diretamente o bem-estar físico e mental. Na China, a rejeição ao modelo 996 foi, em grande parte, motivada pelo aumento de problemas de saúde relacionados ao estresse e à exaustão, inclusive casos de morte por excesso de trabalho entre jovens profissionais.
A situação no Brasil: o que diz a lei?
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Constituição Federal estabelecem um limite de 44 horas semanais de trabalho no Brasil. No entanto, a lei prevê a possibilidade de jornadas mais longas em situações específicas. Setores como saúde e segurança já utilizam a jornada de 12 horas de trabalho seguida por 36 horas de descanso, o que é um direito do trabalhador para compensar a alta carga horária.
A reforma trabalhista de 2017 flexibilizou a carga horária, permitindo que a jornada diária seja estendida para 12 horas, desde que haja um acordo individual ou coletivo e que a empresa garanta o descanso mínimo de 36 horas após a jornada de 12 horas. Embora a prática de 12 horas diárias seja possível em alguns casos no Brasil, ela não se estabeleceu como regra para todas as profissões, diferentemente do que tem acontecido em setores da tecnologia nos Estados Unidos.
Qualidade vs. quantidade: um debate sobre produtividade
O debate sobre a jornada de trabalho se aprofunda na questão da produtividade. Seria mais benéfico para o país e para a economia uma jornada de 12 horas de trabalho não qualificado ou 8 horas de trabalho de um profissional qualificado? Especialistas argumentam que o investimento em educação e qualificação profissional é a chave para o crescimento. O conhecimento e a expertise podem otimizar o tempo de trabalho, tornando 8 horas de um profissional bem capacitado mais produtivas do que 12 horas de um trabalhador exausto.
A discussão sobre o modelo 996 e as longas jornadas de trabalho é um reflexo das transformações no mercado de trabalho. No entanto, ela também ressalta a importância de um equilíbrio entre as demandas profissionais e a necessidade de saúde, bem-estar e vida pessoal.
Se o debate sobre longas jornadas de trabalho te fez refletir sobre a importância de ter mais controle sobre sua carreira e finanças, este próximo passo é para você. A liberdade não está apenas na carga horária, mas na capacidade de construir um futuro financeiro sólido por conta própria.
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